O COMEÇO
Ela tinha 14 anos e ele tinha 16.
Teve uma festa na floresta, e todos foram convidados.
Ela o viu de longe, vestido de preto, uma armadura difícil de se tirar, achou tão lindo que não conseguia parar de olhar. Ele parou de dançar e ficou encarando, como se a conhecesse de algum lugar.
Ela ficou com medo, ainda não entendia essas coisas do coração. Mas ele, pediu que uma fada os apresentasse. A conversa foi estranha por que falavam línguas diferentes, e ambos sentiram muito por não compreenderem.
Ela nunca o esqueceu, e na roda da vida ele reapareceu mil vezes na vida dela, mas sempre acompanhado de outras mulheres, fadas ou elfos que ela também conhecia. Ela não entendia por que ele sempre estava com pessoas que ela conhecia, e depois descobriu que ele simpatizava com as mesmas pessoas que ela.
O tempo passou, os dois nunca ficaram confortáveis na presença um do outro, era preciso ser evitado à qualquer custo. Ela pensava assim, mas ele sempre soube mais do que ela e tentava dar mais um passo, sempre devagar, por que na época ela sabia correr como o vento e sumir (era uma bruxa azul), então ele sempre chegava em silêncio, mas ela ouvia a armadura e desaparecia. Sabia que não ficava indiferente àquela presença, se sentia estranha por que as olhadas que se permitiram no primeiro dia, foram muito mais do que beijos, abraços e palavras. E quando os olhos se encontram, fica difícil de entender e não há destino que mude a força daquele olhar.
DEPOIS
Ele desapareceu por alguns longos anos. E ela estava treinando para lutar e para ser uma bruxa protetora de Guerreiros.
Então teve outra festa no reino numa floresta distante, e ela estava muito triste por que teria que deixar o país pra lutar em uma guerra no exterior. Ela não era mais uma bruxa azul e sim uma bruxa vermelha. Confusa, com medo .Mas essa viagem foi ordenada pelos seus superiores que destroem quem não os obece.
Nesta festa de despedida os dois se reencontraram. Ela ouviu a armadura tentou fugir, mas ele estava mais forte, mas armado e quando a viu, abriu um sorriso meio parecido com aquele olhar do começo da história. Ela não conseguiu sumir.
Conversaram a noite inteira. Fadas, Ogros, duendes olhavam e se afastavam rindo e cochichando. Ela estava confusa por que estava sozinha e teria que enfrentar um guerra e ninguém poderia saber que ela tinha medo. No final do encontro, o sol nasceu, o mar os abençoou e ele chegou bem perto e ela sentiu a respiração dele pela primeira vez. E no ouvido dele, bem baixinho ela disse de forma que nem ela mesma pudesse ouvir: - eu não quero ir...
A GUERRA
A guerra começou e foi árdua.
Durou algum tempo e ela sobreviveu. Voltou cheia de doenças, muito machucada, deformada, não andava mais, se arrastava. Não enxergava, e esqueceu como se fala. Ela não queria que ninguém a visse daquele jeito. Viveu escondida em uma caverna por quatro, cinco anos sendo acompanhada por morcegos, vozes terríveis, monstros que se alimentavam de fadas.
Certa vez, uma borboleta entrou na caverna e disse que ele a estava procurando. Mas como? Não podia ser vista daquele jeito. Ela tinha cheiro de guerra, feridas expostas, não podia mais andar, enxergar e as lembranças fizeram dela outra pessoa. Tinha se transformado numa sombra. E ela se acostumou com a sombra. Ela implorou para a borboleta não dizer onde estava e dormiu chorando de vergonha e raiva.
A SALVAÇÃO
Um dia, no entanto, ele a achou. Ela ficou envergonhada pelas cicatrizes, e pelo rosto deformado pela dor, o coração dilacerado pela solidão. Ele ainda usava a armadura, ainda mais brilhante. Estava ainda mais bonito e foi o único que conseguiu vê-la por dentro da sombra.
Pediu que ela saísse da caverna e vivesse com ele, e ela disse que não poderia por que estava deformada pela vida e sentia vergonha. Mas ele trouxe para ela uma armadura parecida com a que ele usava e disse:
-Usando esta armadura, ninguém vai te ver. Só eu.
Os monstros e os morcegos tentaram impedir e juraram pegá-la de volta.
Ela saiu da caverna nos braços dele. Pela primeira vez depois de muitos anos sentiu o sol e o vento. As fadas, duendes, até os Ogros, bateram palmas.
Ele a levou pra um lugar encantado, tirou sua armadura e tratou suas feridas. Ela começou a enxergar alguma coisa, se olhou no espelho e viu: já tinha 28 anos, e nem de longe se parecia com aquela menina de 14. Carregava nos olhos e na face, todo o desespero do passado. Mas ele conseguia ver a menina de 14 anos, a reconhecia e tratava-a como se fosse dele há muito tempo.
O FINAL
Exausta, ela deitou em seu peito, suspirou fundo e chorou de alivio, alegria, e cansaço.
Parecia que nunca tinha saído dali, e quando se enroscavam, não dava mais para ver quem era quem. A presença dele, o amor e muita paz fizeram com que ela voltasse a andar, recomeçou a falar, a enxergar e está em processo de recuperação.
Diz a lenda que quando ele passa, todos se perguntam se ela sobreviveu, e perguntam aonde ela está, e ele não responde. Trouxe da floresta um Leão de 20 metros e uma Pantera que sabe falar para guardarem a porta da caverna em que ela está.
Apesar da aparência bizarra e de todas as suas limitações, ele continua cuidando dela, dia a dia . Dizem por aí, que quando ela chora por causa de pesadelos, ele escuta de onde estiver.
Ele tem certeza de que ela vai voltar a ter 14 anos, e que juntos construirão uma nova história.
Bom, dizem por aí que já começou a acontecer.
PARABÉNS MEU MOÇO, PELO SEU ANIVERSÁRIO! PARABÉNS POR SER QUEM VOCÊ É.
TE AMO.
Sua Moça.