Monday, September 04, 2006

Tentando compreender

Um dia, alguém me falou que eu teria que aprender e ensinar algumas coias que eu não consigo entender. Por causa disso, me senti muito só. A tristeza da minha alma por não conseguir falar a minha língua ficou visível nos meus olhos. Por isso eu tenho olhos de gente morta.
Minha alma gritava em línguas mil que eu tentava, tentava entender qualquer palavra, até gritar de exaustão. Fui enlouquecendo discretamente. “não entendo, não entendo, não entendo”. Vejo os seres humanos com tanta pena. Percebo que é a mesma pena que sinto quando me olho no espelho. Não pena de mim no sentido particular da palavra, mas pena de mim como mais um ser-humano amaldiçoado com a incapacidade de compreender E como um câncer, nos multiplicamos destruindo tudo. Nossa alma chora, fica doente, e fala, fala...naquela linguagem que a gente aprendeu a ignorar.E assim, a tristeza dominou nosso mundo.Surgiram doenças da alma como depressão, agorafobia, insônia...E o corpo responde com câncer, diabetes, um simples resfriado incoveniente.

Ninguém vai entender as feridas que o mundo abre no meu corpo. Nem a minha surdez devido aos gritos do mundo...Sentir sem saber explicar é o pior castigo que o universo poderia criar. É muito cruel. Meu Deus, como cansa...A vontade do meu corpo é de se encolher num canto até ficar do tamanho e leveza de um balão de gás azul, e finalmente sair voando por aí, sem a responsabilidade de continuar sofrendo pelo mundo. Oca de mim mesma.
Ainda não consigo superar o fato do mundo desabafar com minha alma. E vou morrendo aos poucos. Com os olhos secos e a alma molhada, brigo com Deus.
E Ele, por algum motivo que algum dia vai ter que me explicar , não responde.
Saio de casa olhando para o chão, sem querer encarar o mundo. Mas ele me suga pelo pé : ME COMPREENDA, ME COMPREENDA, ME COMPREENDA...
Vou me cansando como alguém que correu o dia inteiro para realizar um sonho, e perdeu. Perdeu, perdeu, e o mundo não desiste de se fazer entender...como se fosse possível.
Por Deus que não é... Queria eu ter nascido rasa. Não questionaria o mundo, nem as minhas feridas.Nem o meu vago desespero de NÃO COMPREENDER.
Compreender, tolerar, amar. Estou aprendendo a amar aquilo que eu não conheço. Confesso: ainda não aprendi. Ainda nem sei se posso conseguir. Mas vou tentar, por que percebi que é a única forma de sobreviver, e conviver neste mundo.
Acordo, compreendo, tolero, amo(?) e depois vou dormir exausta. Completamente violentada pelo “não saber” do “porquê” daquele dia.
Fabiana Lumi Hirata